A Cor das Nuvens

Hoje, vou esquecer a política, a economia, o ensino, a globalização, a xenofobia, o racismo, o multilateralismo e outros “ismos”. Também não vou falar das alterações climáticas, do degelo, da neutralidade carbónica, do setor público, privado ou social. Não vou falar dos fundos europeus e da “grande bazuca” que passou a “vitamina“, há quem diga, que não passa de uma “aspirina” que nos pode salvar ou afundar!

Não, não vou falar da pandemia, nem tão pouco da vacinação, quem tem direito a estar na fila ou ser o primeiro, nem daqueles que utilizam a porta amiga ou dos fundos. Gosto muito das palavras, mas, também não vou falar de “resiliência” de que tantos gostam, palavra redondinha, tão expressiva, até parece que cabe lá tudo… todas as explicações possíveis e impossíveis. Até o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) não estaria completo nem se concretizaria se a palavra “resiliência” não estivesse associada. Assim sim, vamos chegar depressa e bem, com o tão afamado PRR, assim passe incólume aos meandros burocráticos de Bruxelas.

Para esquecer tudo isto, vou ver o mundo de pernas para o ar, olhar o céu, olhar e ver a cor das nuvens. De que cor são as nuvens? Não sei! Talvez sejam da cor dos meus e teus olhos, de uma só cor ou da cor do arco-íris? Com todas as cores, ou serão só brancas, cinzentas, leves ou pesadas? Podes conjugar outras cores, até terem a cor do teu desejo, até terem a cor dos teus olhos sem sombras. São da cor que lhe queiras dar, da cor do teu estado de alma. Algumas são da cor da luz, não se veem, e estão lá todas as cores e tamanhos, tamanhos e cores da tua imaginação.

Se queres ver ou avaliar o estado do tempo olhas para o alto à procura sabe-se lá de quê! Das nuvens, talvez. Algumas passam rápido, com pressa de chegar, ninguém sabe muito bem onde! Outras abraçam o horizonte com saudade, ali onde o mar beija o céu.

Olho, espreito, tento descobrir o que está por detrás daquela nuvem, estudo a forma, o tamanho, as cores. Cores que pressentem mau tempo, outras brancas… brancas… brancas, que nos fazem viajar e sonhar.

O que sentes, quando vês o céu azul límpido. Limpo, pensas tu!

Afinal o que há por cima das nossas cabeças, acima das nuvens?

Satélites artificiais e outros objetos, não os vemos, mas estão lá, rondando, cirandando, gravitando, e nós distraídos cá em baixo preocupados com o devir, com os brasões de Belém, com as medalhas do militar mais condecorado do Exército Português. Breve, breve, vamos andar todos a olhar para o alto à espera do que não chega, mas, imaginamos e tememos que nos possa esmagar a qualquer momento… ainda mais!

Até quando a tomada de consciência da situação e confusão que se passa por cima das nossas cabeças? Desde 1957 que se acumula “lixo” por cima das nossas cabeças (começou com o Sputnik).

É hora de descer à terra, sem esquecer o espaço, enfrentar a realidade, pensar em tudo aquilo que queremos esquecer, procurar nas entranhas a força que todos precisamos e deixar de caminhar com a cabeça nas nuvens.

Porque é assim mesmo que nós somos:
 Insubstanciais nuvens onde o homem
Constrói as suas frágeis esperanças,
Brilhantes, tentadoras, mas formadas
De puro ar, miragens do desejo.” (Aristófanes)

 José Ribeiro

ARA Lisboa